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sexta-feira, 28 de junho de 2013

OS CORTADORES DE CANA




Dois milhões de hectares cobrindo uma superfície equivalente a um país inteiro como a Suíça: o interior do Estado de São Paulo



é uma imensa plantação de cana. São cerca de 150 milhões de toneladas de cana cortadas por safra, a metade da produção do país, o triplo do Nordeste,



mais de dez vezes a produção de laranjas do Estado, processadas em pouco mais de uma centena de unidades produtivas, entre usinas e destilarias.





Quem percorre as rodovias da região se impressiona com a sua extensão, às vezes é incomodado por um cheiro ácido, do vinhoto, ou de fumaça



negra vinda das queimadas. Tudo parece deserto; ninguém vê os trabalhadores. Parece até que eles não existem, enfiados no meio dos canaviais, pequenos pontos perdidos e isolados. No entanto há milhares deles, homens e



mulheres, em todos os períodos de safra. Muitos vêm de longe, tangidos pelodesemprego e a miséria, outros são da região. Como a rotatividade é grande



e os vínculos empregatícios precários, é difícil saber seu número. Segundo os usineiros, são por volta de 400.000.





Alguns chegam a cortar, com seus facões, vinte toneladas de cana por dia (para fazer uma comparação, um Fusca pesa cerca de 1,2 tonelada). A pro-



dutividade do cortador em São Paulo é a maior do país.





De vez em quando, eles viram matéria nos jornais, em geral como vilões, violentos baderneiros. Foi o que aconteceu em 1984, no episódio de



Guariba, onde foram violentamente reprimidos pela polícia, quando lutavam contra a mudança do sistema de 5 para 7 ruas, que intensificava o trabalho.





Recentemente, num programa de TV transmitido em rede nacional, foram apresentados como trabalhadores que, embora trabalhem muito e pesado,



também ganham muito. Por coincidência, exatamente nessa época, começamos a fazer nosso estudo sobre os cortadores de cana da região de Araraquara e constatamos outra realidade: é verdade que eles trabalham muito, mas



não é verdade que eles ganham muito; eles ganham muito pouco.





O presente texto é o relatório deste estudo, que nasceu de um projeto de colaboração entre pesquisadores da Coordenadoria de Ergonomia da Funda-



centro e o Sindicato dos Empregados Rurais de Araraquara. Seu objetivo era conhecer melhor o trabalho dos cortadores de cana,



a partir da descrição feita pelos próprios trabalhadores, isto é, utilizando o método de pesquisa denominado Análise Coletiva do Trabalho (ACT). Este



método já havia sido utilizado no estudo de outras categorias (pilotos e petroleiros) e se mostrou bastante rico.





Neste caso, a Análise Coletiva do Trabalho se concretizou em 4 reuniões preparatórias com os dirigentes sindicais e em 3 reuniões de análise com



os trabalhadores, feitas na sede do sindicato, em Araraquara, no período de safra de 94/95. As reuniões com os trabalhadores foram previamente agendadas e os participantes convidados pelo sindicato, que arcou com a diária



de cada um, para não serem prejudicados em virtude da ausência ao serviço.





Cerca de 30 trabalhadores, em grupos de 10, e 3 pesquisadoras participaram das reuniões que duraram, em média, 2 horas cada. Eram homens e mulhe-



res, jovens e idosos, experientes ou novatos no corte da cana, trabalhando em várias usinas diferentes.





Todo o material foi gravado com o consentimento deles. Em seguida, asfitas foram transcritas pelas próprias pesquisadoras, originando um relatório preliminar que foi apresentado em reunião no sindicato para um grupo de cerca de 10 pessoas, entre dirigentes do Sindicato de Araraquara e convidados



de outras regiões do interior de São Paulo. Alguns pontos foram corrigidos, porque estavam errados. Porém, todos foram unânimes em afirmar que o relatório refletia a realidade do trabalho dos cortadores de cana de Araraquara e que, em alguns pontos, esta realidade era diferente da de outras regiões próximas, o que poderá incentivar a realização de estudos semelhantes.





No presente texto, as palavras dos cortadores, quando reproduzidas literalmente, aparecem em caracteres itálicos. A divisão dos temas e o seu conteúdo são de responsabilidade apenas das pesquisadoras.



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